Qualidade e Processos

O que é agregação de valor e desperdício no Lean Manufacturing?

Mesmo quando se tem processos bem estruturados, é difícil identificar onde possam existir desperdícios e quais atividades são realmente capazes de agregar valor ao produto. Mas o que é agregação de valor?

Os profissionais que atuam há muitos anos dentro de uma mesma organização acabam simplesmente se acostumando a realizar as atividades sem questionar se elas realmente precisam ser executadas, sem aplicação de melhorias, sem mudanças e etc. 

Por isso, é importante entender o que significa agregar valor, o que é desperdício e também o que é necessário, mas não agrega valor nos negócios.

Independentemente de a empresa fabricar um produto ou oferecer um serviço, alinhar esses conceitos e agir sobre eles é uma forma de manter a empresa sustentável.

Continue lendo e saiba tudo sobre agregação de valor e como melhorar o cenário onde você trabalha.

O que é agregação de valor?

A agregação de valor é quando o cliente/consumidor reconhece as características exclusivas de um produto ou serviço e paga para obter esse benefício.

Esses detalhes que dão diferenciação ao que uma empresa vende inclui diversas estratégias como:

  • uma matéria-prima mais durável;
  • uma tecnologia mais atual;
  • um design exclusivo;
  • um suporte técnico 24h, etc.

Então, perceber o valor agregado vai além do binômio preço e qualidade. É possível ir além, das características tangíveis para criar valores diferenciados para sua marca.

O processo, entretanto, não é uma via de mão única. A empresa, muitas vezes, pode perceber valores diferentes do que o público-alvo vê.

Então, conhecer para quem você vende, suas principais dores, o que o mercado ainda não oferece, ajuda a definir e otimizar agregação de valor.

E nesse caminho, identificar e eliminar desperdícios é uma atividade essencial para a qualidade daquilo que a empresa oferece. 

O que é desperdício?

O desperdício é tudo que utiliza os recursos e o tempo de uma equipe, além do espaço de trabalho sem acrescentar diretamente na agregação de valor.

O principal motivo de eliminar o que causa desperdício é porque esses fatores não têm impacto nenhum no produto.

Pelo contrário, podem atrasar a entrega de resultados, a produtividade da equipe e gerar prejuízos financeiros. 

E sabia que 70% do que fazemos é desperdícios. Assista ao vídeo abaixo e entenda o porque:

Vamos pensar em uma empresa de RH que se responsabiliza pela execução de processos seletivos das mais diversas multinacionais do Brasil. 

Como são recebidos e enviados muitos e-mails por dia, é muito comum que os profissionais de recursos humanos enviem e-mails para os remetentes errados e façam confusões entre os candidatos e as vagas

Exatamente por não ter nenhuma etiqueta ou classificação para que o mesmo possa identificar quem é aquele candidato e de qual processo seletivo ele faz parte. 

Afinal de contas, parece perda de tempo você dedicar duas horas da sua manhã de segunda-feira toda semana, organizando em pastas ou etiquetas todos os processos seletivos que vão ocorrer nos próximos dias e quais os candidatos/contatos envolvidos, não é mesmo? 

Porém, se você pensar bem, enviar e receber as informações corretas das vagas e candidatos em processos seletivos é de extrema importância, faz total diferença no resultado final da empresa. 

Portanto, a criação dessa nova ETAPA se faz necessária, uma vez que as atividades realizadas sem ela possuem alto índice de desperdícios e falhas.

Utilizamos o exemplo de uma organização prestadora de serviços, porém, é possível visualizar isso no cenário de qualquer empresa.

Exemplos de atividades que agregam valor vs. as que não agregam valor

Em uma classificação bem rápida, tarefas que geram desperdícios são atividades que:

  • precisam de retrabalhos constantes;
  • possuem grandes erros;
  • a empresa perde tempo e dinheiro realizando-a.

Geralmente, são atividades que existem desde que a empresa iniciou seu trabalho no mercado. 

Por isso, por sempre ter feito parte do escopo da empresa, não há uma supervisão ou mensuração de resultados e os gestores consideram-nas extremamente importantes.

Em suma, podemos pensar da seguinte forma: se o seu cliente não está disposto a pagar por essa atividade, ela será considerada um exemplo de atividade que não agrega valor. 

Questione se a tarefa executada realmente modifica o resultado final ou não.

É comum então, ao identificar uma atividade que não agrega valor, querer eliminá-la. Entretanto, será que podemos eliminar todos os desperdícios?

Confira o vídeo abaixo para conhecer essa resposta:

Já os exemplos de atividades que agregam valor são aquelas que as empresas não podem abrir mão de jeito nenhum, já que fazem parte da satisfação do cliente. É o porquê os clientes compram o seu produto e não o da concorrência.

Se pensarmos na produção da Coca Cola, por exemplo. Qual é o motivo pelo qual as pessoas pagam R$7 em 2L de Coca-Cola se é possível pagar R$3 ou R$4 em versões similares? É pela fórmula única do seu sabor!

Seria impossível, portanto, deixar de lado o investimento nos ingredientes necessários, na capacitação para execução da receita da maneira correta e tradicional, na supervisão desta produção para que nenhum cliente tenha acesso a um refrigerante com um sabor diferente do prometido e esperado.

Ou seja, essas são atividades cruciais, que agregam muito valor e, provavelmente, nunca poderão ser eliminadas de todo o processo da empresa!

Observação: percebe como o cliente final está disposto a pagar por essa atividade? É assim que identificamos aquilo que agrega valor.

Valor agregado: exemplo case da Volkswagen

Quem assistiu à série da Netflix “Rota do Dinheiro Sujo”, nem precisará de muitas explicações. Agora, quem não assistiu e sequer tem ideia do que estamos falando, vamos aos fatos:

A Volkswagen introduziu há um poucos anos um modelo de carro a diesel muito econômico e limpo no mercado. As emissões de CO² eram bem reduzidas se comparadas a qualquer outro veículo existente. 

O ponto-chave do veículo era exatamente o fato do carro não fazer tão mal ao meio ambiente quanto os demais e, por isso, muitas famílias optaram por ele, independentemente de preço e características gerais.

Após algum tempo foi descoberto que a empresa utilizou um software que fazia com que as taxas de emissão de CO2 parecessem mais baixas, um software que reduzia em 40% as emissões detectadas. 

O que isso significa? Que utilizando este software além de ter menores custos na produção de um veículo com tamanho potencial, a empresa continuaria chamando a atenção dos clientes por conta dos benefícios do veículo. Porém, no final das contas, o barato saiu caro!

Por não investir em algo que AGREGAVA VALOR de verdade ao seu cliente final e ao seu produto, a empresa acabou manchando o seu nome, carregando um processo gigantesco nas costas e perdendo a oportunidade de ganhar muito dinheiro com este produto.

Como classificar as atividades da sua empresa

É exatamente por esse motivo que levantamos a seguinte pauta: o que é desperdício e o que agrega valor? 

Isso porque, especialmente empresas que querem reduzir custos, podem dar um tiro no próprio pé, caso optem por otimizar ou reduzir custos de uma atividade que agrega valor.

Por isso, é necessário que:

  • haja um mapeamento dos processos;
  • haja entendimento sobre o motivo pelo qual os clientes compram;
  • entendam quais são as atividades que agregam valor e quais são desperdícios;
  • entendam onde existam possíveis gaps durante os processos;
  • entendam como é possível otimizar estes gaps;
  • saibam reduzir custos e otimizar tarefas que são classificadas como desperdícios.

Evitando os 3M na produção

Seguindo os pontos acima, é possível evitar os 3M — Muda, Mura e Muri — considerados desperdícios dentro da metodologia Lean Manufacturing. 

O primeiro M, Muda, refere-se às tarefas executadas que não agregam valor no processo. Por exemplo: quatro caminhões com capacidade para levar até duas toneladas, saem carregando apenas 500 kg cada um.

Já o Mura é um desperdício relacionado a falhas nos processos durante a produção. Essas irregularidades podem desequilibrar ou sobrecarregar o trabalho. Continuando no exemplo de transporte de carga dos caminhos, um dos quatros pode sair com a carga além do limite enquanto os outros seguem com espaço sobrando. 

Por fim, o Muri é um desperdício relacionado à sobrecarga dentro das etapas da cadeia produtiva. Seja da equipe de trabalho, do maquinário, dos processos ou do transporte.

Concluindo o exemplo que começamos no primeiro item, quando um caminho que faz o transporte leva toda carga que poderia ser dividida com os outros três.  

Quer aprender mais sobre agregar valor ao produto

Caso queira entender mais sobre este assunto, o episódio #003 do nosso podcast, o Business Break, pode te ajudar a entender melhor sobre quais são desperdícios e como identificá-los. Escute agora mesmo: https://api.soundcloud.com/tracks/665221103

Se você já está estudando formas de evitar desperdícios, pode aprender mais no curso online Lean Manufacturing Specialist que traz um aprofundamento nas ferramentas para identificação e eliminação de desperdícios e agregação de valor.

Mas se você está dando os primeiros passos nessa área de conhecimento, pode começar de forma gratuita no curso online Lean Manufacturing Basic e ganhar uma noção geral de como eliminar desperdícios.

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Carlos Sander

Autor de 2 livros publicados: "Lean Six Sigma: O guia básico da metodologia" e "101 Dúvidas sobre Lean Six Sigma". É formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual Paulista - UNESP. Estudou Business and Process Management pela University of Arkansas - EUA, direcionando sua especialização em Lean Seis Sigma e Gestão Empresarial. Professor de empresas como BRF, Plasútil, Usiminas, Petrocoque, Avon, Mondelli, UNESP, JohnDeere e de mais de 60.000 alunos na comunidade online. Com mais de 30 mil certificados emitidos, é CEO da Frons, uma plataforma focada em melhoria contínua e gestão de processos.

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